A técnica de clinch no Muay Thai é algo bastante discutido e ainda pouco compreendido na sua completude, visto que sempre há relatos de lutadores que foram a Tailândia e voltam falando das dificuldades técnicas encontradas lá, onde o clinch é a principal delas, tanto em conhecimento quanto em quantidade de treinos.
Ficou bastante comum no Brasil o
ensino de MuayThai com utilização de técnicas apenas de socos e chutes e
algumas joelhadas – mais utilizadas nas regras do K-1 -, a técnica de clinch
mais utilizada era a padrão K-1, com duas mãos atrás da nuca adversária e joelhada
subindo para atingir o rosto ou o diafragma, limitando muito o uso da técnica
que é praticada na Tailândia.
O clinch é algo muito rico e
indicarei alguns vídeos que mostrem princípios básicos que ajudem a entender um
pouco mais o que é fundamental para se começar a ter uma boa técnica de clinch
e aumentar o leque de conhecimentos sobre essa e outras técnicas fundamentais
dentro do MuayThai.
O MuayThai no modo pelo qual é
praticado na Tailândia possui algumas características bem específicas que é
diferente do que estamos acostumados no lado ocidental do planeta, desde a
pontuação, o estilo, o que é visto e o que é considerado principal em um
guerreiro e em uma luta.
Como já foi disto na publicação
sobre postura, a base é algo fundamental, e como o julgamento se baseia em quanto
o lutador é forte, ele tem que ter uma base firme, independente da sua
movimentação, não pode acusar que desequilibrou ou sentiu o golpe adversário.
Além disso, a postura das técnicas tanto de ataque quanto defesa precisam estar
no esplendor. Numa peleja o lutador tem que machucar o oponente, ou seja, os
golpes precisam ser lançados com força, para que o adversário sinta o golpe
lançado. A força e técnica são importantes mas o coração é algo levado em conta
também, onde o lutador pode virar uma luta, ou mesmo quando cansado consegue se
sobrepor ao outro e no fim da luta mostrar mais garra. Existe eventos que ainda
pontuam para o lutador que anda para frente, indicando que ele está melhor na
luta e está buscando mais o combate, diferente de quem está andando para trás,
quase que correndo da luta. É desse princípio que o clinch sempre ocorrerá em
uma luta na Tailândia.
Para mais informações em
português sobre MuayThai, conhecimento de lutas, regras, técnicas e lutadores
há o acervothai e o yoksutai.
Da forma que é praticado na
Tailândia, normalmente não há grande movimentação durante uma luta, os
lutadores costumam sempre andar para frente em busca da peleja e de machucar o
oponente. Só que em uma luta onde dois adversários andam para frente, uma hora
a distância será tão curta entre eles que o que resta é partir para o clinch.
Partindo da ideia básica, vou
partir do início, a base. No clinch, os pés ficam paralelos, não em postura
diagonal como durante o restante do combate. Os calcanhares se elevam e fica-se
apoiado na semi-planta do pé, como modo de mostrar equilíbrio e imposição na
postura sobre o oponente. O quadril é jogado para frente, colando o corpo ao do
outro e buscando o controle, anda-se para frente, tentando fazer com que o
adversário ande para trás e seja controlado nessa posição.
Figura 1. Atenção aos pés do
atleta de vermelho, postura de quem domina o clinch e se impõe ao adversário.
No vídeo é possível vermos várias
técnicas e é bom assistir vários deles, mas logo no início vemos a postura dos
pés e quadril indicado, o que ajuda também movimentações laterais, rotações
buscando quedas ou desequilíbrio adversário. O clinch trata de dominação,
imposição e desequilíbrio. Corpos eretos mostram controle, domínio e
sobrepujança de um lutador sobre outro.
Como é uma técnica aplicada em
uma peleja, não adianta apenas a disputa pelo ganho dos braços, mas a aplicação
de golpes, sendo joelhadas contínuas e possíveis cotoveladas. O método de
entrada é dos mais variados tipos, desde fintas com socos para uma mão e depois
outra, como fintas de joelhadas para diminuição da distância, etc. Após o
início do clinch, busca-se travar os bíceps alheio com o objetivo de evitar
possíveis cotoveladas e mostrar uma forma de controle sobre o adversário.
Figura 2. Controle dos biceps para
evitar entradas de cotovelos, onde o dano é muito grande e a distância é propícia
a estes golpes.
Após a postura bem firme, há a
disputa de controle de braços e início de sequências de joelhadas, onde quem
recebe as joelhadas não pode acusar que sentiu o golpe e tem que continuar
buscando o controle do clinch e o lançamento de joelhadas (empurrando, não
apenas subindo) para machucar o oponente.
Figura 3. Melhor forma de aplicar
uma joelhada na região abdominal, empurrando e projetando o quadril para
frente, dando maior potência para o golpe “entrar”.
Há quem diga que o clinch não é
uma luta, é como uma dança. Como um combate do Muay Thai ocorre sempre ao som da
sarama – a música tradicional tocada durante as lutas – o momento do clinch é
quase como uma dança a dois, onde a situação de domínio pode ser vista como uma
condução do parceiro.
Figura 4. Combate um dança a
dois?
O clinch serve tanto para ataques
quanto para quedas, e uma queda é o sinônimo que você é mais forte e mais
equilibrado que seu oponente, levando vantagem em uma luta quando há quedas.
Mas que fique claro: Muitas quedas pode ser visto pelos juízes um modo de você
fugir da luta, com medo de ataques etc.
Diferente de um combate onde só
há troca de golpes, onde há momentos de explosão e relaxamento durante a
peleja, no clinch há troca constante de força e isometria, ainda ocorrendo a
explosão no lançamento de joelhadas e cotoveladas potentes.
Figura 5. Tirando a potência da
joelhada do oponente empurrando-o pelos ombros, não deixando que seja dominado
pelo clinch adversário.
Inicialmente é isso, depois
falarei um pouco mais sobre as técnicas de braço, as disputas, as semelhanças e
diferenças entre outras técnicas de lutas agarradas e vantagens e desvantagens,
além de um pouco da origem destes conceitos. Assista quantos vídeos puder
prestando atenção nos detalhes, desde postura, disputas e truques, como o uso
da cabeça para incomodar e trava de braços.
Figura 6. Bloqueio do quadril
adversário.
Tem um artigo muito bom do 8limbs
falando sobre Tanadet Tor. Pran49 sobre a técnica utilizada pela sua academia, no qual não há
essa postura ereta, já que o tipo de trava exige uma inclinação do tronco. Dá
uma olhada.