sábado, 25 de julho de 2015

Corrida e Muay Thai





       http://fightland.vice.com/blog/an-american-in-thailand-the-muay-thai-cult-of-running

 
   Com a popularização (ou moda, fica a seu critério) das artes marciais, em especial do Muay Thai, tem-se um crescimento considerável do número de artigos, postagens, reportagens e publicações de todos os tipos e qualidades referentes à arte marcial tailandesa.  Não cabe a mim discutir sobre a qualidade de textos de outros lugares, cabe a você buscar informações e treinar em um lugar que mostre relação com o Muay Thai que é praticado pelos profissionais, no qual seu mestre lhe dê suporte, ao invés de querer se mostrar superior e ser um porradeiro qualquer.
                Falar sobre a popularidade do Muay Thai está relacionada a discussão de alguns aspectos importantes para quem treina, como equipamentos, métodos de treinamento, treinos intercalados (outras atividades, como musculação, natação, jiu-jitsu, futebol, etc.), alimentação e tudo mais, principalmente para aqueles que pretendem competir ou já fazem outra atividade e querem ingressar no mundo da luta.  Hoje discutirei um pouco sobre a importância da corrida.

                No sítio do Muay Thai Scholar (http://www.muaythaischolar.com/running-in-thailand/) há um relato do autor do texto sobre suas idas à Tailândia com o objetivo de treinar e ser “forçado” a correr e seu modo de entender a obsessão dos tailandeses pela corrida. Eu vou falar sobre alguns aspectos da corrida, não necessariamente sobre os Thais, mas como ela pode ser realmente imprescindível no Muay Thai.
                


                A corrida é um dos esportes mais populares do Brasil, chegando a ter 6 milhões de praticantes (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/erratas/2014/10/27/uol-tab-numero-de-corredores-no-brasil.htm ) , onde você vai ter na estatística praticantes e aqueles que participam de competições. Esse número é bem variável, visto que várias pessoas correm apenas por diversão, outros pela saúde (que duram períodos curtos, com objetivos de atingir certo peso), outros correm na praia em alta intensidade mas com distâncias curtas, fazendo com que esse número possa ser muito maior se incluirmos todos eles. Se formos pegar apenas os competidores este número cai para 3,5 milhões, quase a metade. Ela é o esporte mais simples de se praticar, pode ser feita com os pés descalços, ou você simplesmente coloca um tênis e sai correndo por aí. Quando a corrida passa a ser de rotina ou quando se tem uma prática, alguns outros aspectos são importantes a serem considerados: O tênis que melhor se adequa a sua pisada, o tipo de piso no qual você corre, os intervalos, a recuperação, alimentação, modo de respirar, distâncias, Pace, outros equipamentos para diferentes climas, etc.

                Conhecendo seus números, suas facilidades, o que torna a corrida tão benéfica ao ponto de ser a base fundamental da preparação de um lutador de Muay Thai?
                Em uma luta como o Muay Thai é preciso que o corpo gaste grandes quantidades energéticas (ATP – Adenosina trifosfato), e é em relação a essa reserva energética que a corrida contribui para a melhora de rendimento.  Os tipos de processos energéticos são o aeróbico, anaeróbico lático e anaeróbico alático.
                Todos os processos relacionam gasto energético com reposição da ATP, cada um no seu tempo e da sua forma e quantidade. Na internet e livros específicos é possível encontrar informações mais detalhadas sobre estes processos mas vou apenas utilizar uma base para relacionar a produção e gasto da adenosina trifosfato no Muay Thai e na corrida.




              Anaeróbico Alático        

  O processo anaeróbico alático existe para re-síntese da ATP em exercícios de curtíssima duração, onde sua produção é rápida, porém em pequenas quantidades. Durante o gasto energético em atividades curtas como subir uma escada, um Sprint para pegar o ônibus dentre outros, há a hidrólise (quebra) da ATP para geração de energia e a re-síntese é feita com a hidrólise da creatina-fosfato, que também é quebrada para o fósforo aderir à ADP (Adenosina difosfato) formando uma nova ATP. Neste processo há também a quebra de uma ATP, só que presente nas mitocôndrias que unem novamente um fósforo à creatina isolada pela hidrólise anterior. Nisso há geração de energia livre, que é utilizada no período curto de energia disponível para atividades rápidas. 

               
                Anaeróbico lático

                No processo Anaeróbico lático ocorre o gasto energético e produção da ATP através da presença de glicose para a geração do ácido lático, responsável pela sensação de dor e queima muscular quando há grandes quantidades produzidas na prática do exercício. Este é um processo intermediário, não durando mais que 2 minutos, mas comumente durando menos que isso e já convertendo-se para o processo aeróbico.  Aqui um lance maior de escada, uma corrida mais explosiva, uma prova de natação de 50m, atividades de curta duração possuem como maior responsável energético o processo lático.


    Aeróbico

                A via aeróbica é o processo mais prolongado pois ela envolve tanto a parte glicolítica, quanto o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, ou seja, ela utiliza oxigênio no seu processo, A molécula de glicose é quebrada na via glicolítica, formando 2 moléculas de piruvato, com 3 carbonos. No final, a molécula de glicose libera água e CO2, lembrando uma reação inversa de fotossíntese. Há a demora entre 1 a 2 minutos para ocorrer tal processo, já que existe a dependência de várias enzimas até a fase final. Atividades de baixa intensidade e longa duração possuem características de produção energética via aeróbia. Uma vantagem é que a quantidade de ATP produzida por esta via é muito maior que as outras, tendo como desvantagem a lentidão do processo.


              Conhecendo superficialmente os processos energéticos existentes durante a prática de exercícios físicos, falaremos deles durante a corrida e a prática de Muay Thai e como podemos potencializar o rendimento da luta com a ajuda da corrida.

                Na Tailândia os atletas correm entre 6 a 12km, sendo uma parte pela manhã antes do treino e outra fatia menor pela tarde antes do segundo treino, sendo assim, corridas de longa duração. Numa luta de Muay Thai temos golpes nos quais usa-se a explosão física para que estes saiam com máxima potência quando atingem o adversário com o fim de machuca-los e/ou nocauteá-los. Após a utilização de golpes explosivos ou alguma sequência de golpes há a necessidade de recuperação; sendo os golpes executados em curtíssima ou curta duração, pensa-se que só se faz uso de processos anaeróbicos alático e lático, e que seria necessário apenas treinos de corridas curtas e de alta intensidade, como é comumente utilizado em treinos de lutadores de MMA e Jiu-Jitsu, com sprints e corridas curtas em areia, para otimizar essa capacidade de explosão no combate. 

                Como já foi explicado acima sobre os gastos energéticos, no uso dos golpes explosivos e na parte de clinch (que é a parte agarrada do Muay Thai) há o gasto anaeróbico lático e alático, devido também à força de contração muscular, mas o Muay Thai faz muito uso de chutes e joelhadas, sendo esta última, muito usadas junto ao clinch, executadas na forma de saltos e de duração considerável durante a luta, passando do tempo de explosão e partindo para a parte aeróbica do gasto energético. Assim, entramos na necessidade da corrida de longa duração que os Thais executam como parte básica do treino. Os lutadores também fazem preparação física com treinos de musculação, onde cuidam da parte anaeróbica e reforço das articulações e músculos, mas em um esporte onde a luta é basicamente composta de 5 rounds de 3 minutos e mostrar cansaço é quase que uma desonra, a necessidade de um gás que dure independente da intensidade da luta é obtida com treinos de longa duração, e é aí que entram as corridas de longas distâncias desse povo. 

                Além do uso da parte respiratória durante a luta, a re-síntese tem que ser feita nas três etapas (anaeróbicas alática, lática e aeróbica), o que é alcançado nos treinos longos. Também temos o estilo de luta da própria arte do Muay Thai, onde os golpes (principalmente os chutes) são executados com velocidade e potência, sendo um pré-requisito pernas leves e tonificadas, características de atletas de corridas longas e diferente de velocistas, que possuem pernas com musculatura hipertrofiada e muito desenvolvida, buscando a explosão ao extremo e terminando a competição em segundos, utilizando basicamente o sistema anaeróbico. 

                Tendo em conta estes fatores, começamos a entender o porquê da obsessão dos tailandeses pela corrida com distâncias longas e duas vezes ao dia – com descanso apenas no domingo (ou em apenas um dia da semana) – como início do aquecimento do treino.  O treino também possui outras partes aeróbicas e anaeróbicas alternadas que justificam tamanho preparo dos lutadores e bom gás para tantos rounds e lutas seguidas em intervalos curtos (de 15 em 15 duas ou menos!). 

                Então, se pretende ser um lutador ou pelo menos tentar treinar de forma semelhante aos tailandeses a primeira dica é: Corra! E corra bastante! Mas comece no seu ritmo, se informe sobre tênis, sua capacidade cardíaca, seu ritmo de corrida (Pace), o tipo de terreno e tudo mais e se divirta!

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