Com a popularização (ou moda,
fica a seu critério) das artes marciais, em especial do Muay Thai, tem-se um
crescimento considerável do número de artigos, postagens, reportagens e
publicações de todos os tipos e qualidades referentes à arte marcial tailandesa. Não cabe a mim discutir sobre a qualidade de
textos de outros lugares, cabe a você buscar informações e treinar em um lugar
que mostre relação com o Muay Thai que é praticado pelos profissionais, no qual
seu mestre lhe dê suporte, ao invés de querer se mostrar superior e ser um porradeiro qualquer.
Falar
sobre a popularidade do Muay Thai está relacionada a discussão de alguns
aspectos importantes para quem treina, como equipamentos, métodos de
treinamento, treinos intercalados (outras atividades, como musculação, natação,
jiu-jitsu, futebol, etc.), alimentação e tudo mais, principalmente para aqueles
que pretendem competir ou já fazem outra atividade e querem ingressar no mundo
da luta. Hoje discutirei um pouco sobre
a importância da corrida.
No
sítio do Muay Thai Scholar (http://www.muaythaischolar.com/running-in-thailand/)
há um relato do autor do texto sobre suas idas à Tailândia com o objetivo de
treinar e ser “forçado” a correr e seu modo de entender a obsessão dos
tailandeses pela corrida. Eu vou falar sobre alguns aspectos da corrida, não
necessariamente sobre os Thais, mas como ela pode ser realmente imprescindível
no Muay Thai.
A
corrida é um dos esportes mais populares do Brasil, chegando a ter 6 milhões de
praticantes (http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/erratas/2014/10/27/uol-tab-numero-de-corredores-no-brasil.htm
) , onde você vai ter na estatística praticantes e aqueles que participam de
competições. Esse número é bem variável, visto que várias pessoas correm apenas
por diversão, outros pela saúde (que duram períodos curtos, com objetivos de
atingir certo peso), outros correm na praia em alta intensidade mas com
distâncias curtas, fazendo com que esse número possa ser muito maior se
incluirmos todos eles. Se formos pegar apenas os competidores este número cai para
3,5 milhões, quase a metade. Ela é o esporte mais simples de se praticar, pode
ser feita com os pés descalços, ou você simplesmente coloca um tênis e sai
correndo por aí. Quando a corrida passa a ser de rotina ou quando se tem uma
prática, alguns outros aspectos são importantes a serem considerados: O tênis que
melhor se adequa a sua pisada, o tipo de piso no qual você corre, os intervalos,
a recuperação, alimentação, modo de respirar, distâncias, Pace, outros
equipamentos para diferentes climas, etc.
Conhecendo
seus números, suas facilidades, o que torna a corrida tão benéfica ao ponto de
ser a base fundamental da preparação de um lutador de Muay Thai?
Em uma
luta como o Muay Thai é preciso que o corpo gaste grandes quantidades
energéticas (ATP – Adenosina trifosfato), e é em relação a essa reserva
energética que a corrida contribui para a melhora de rendimento. Os tipos de processos energéticos são o aeróbico,
anaeróbico lático e anaeróbico alático.
Todos
os processos relacionam gasto energético com reposição da ATP, cada um no seu
tempo e da sua forma e quantidade. Na internet e livros específicos é possível
encontrar informações mais detalhadas sobre estes processos mas vou apenas
utilizar uma base para relacionar a produção e gasto da adenosina trifosfato no
Muay Thai e na corrida.
Anaeróbico Alático
O processo anaeróbico alático
existe para re-síntese da ATP em exercícios de curtíssima duração, onde sua
produção é rápida, porém em pequenas quantidades. Durante o gasto energético em
atividades curtas como subir uma escada, um Sprint para pegar o ônibus dentre
outros, há a hidrólise (quebra) da ATP para geração de energia e a re-síntese é
feita com a hidrólise da creatina-fosfato, que também é quebrada para o fósforo
aderir à ADP (Adenosina difosfato) formando uma nova ATP. Neste processo há
também a quebra de uma ATP, só que presente nas mitocôndrias que unem novamente
um fósforo à creatina isolada pela hidrólise anterior. Nisso há geração de
energia livre, que é utilizada no período curto de energia disponível para
atividades rápidas.
Anaeróbico lático
No
processo Anaeróbico lático ocorre o gasto energético e produção da ATP através da
presença de glicose para a geração do ácido lático, responsável pela sensação
de dor e queima muscular quando há grandes quantidades produzidas na prática do
exercício. Este é um processo intermediário, não durando mais que 2 minutos,
mas comumente durando menos que isso e já convertendo-se para o processo
aeróbico. Aqui um lance maior de escada,
uma corrida mais explosiva, uma prova de natação de 50m, atividades de curta
duração possuem como maior responsável energético o processo lático.
Aeróbico
A via
aeróbica é o processo mais prolongado pois ela envolve tanto a parte
glicolítica, quanto o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, ou seja, ela
utiliza oxigênio no seu processo, A molécula de glicose é quebrada na via
glicolítica, formando 2 moléculas de piruvato, com 3 carbonos. No final, a
molécula de glicose libera água e CO2, lembrando uma reação inversa de
fotossíntese. Há a demora entre 1 a 2 minutos para ocorrer tal processo, já que
existe a dependência de várias enzimas até a fase final. Atividades de baixa
intensidade e longa duração possuem características de produção energética via
aeróbia. Uma vantagem é que a quantidade de ATP produzida por esta via é muito
maior que as outras, tendo como desvantagem a lentidão do processo.
Conhecendo
superficialmente os processos energéticos existentes durante a prática de
exercícios físicos, falaremos deles durante a corrida e a prática de Muay Thai
e como podemos potencializar o rendimento da luta com a ajuda da corrida.
Na Tailândia
os atletas correm entre 6 a 12km, sendo uma parte pela manhã antes do treino e
outra fatia menor pela tarde antes do segundo treino, sendo assim, corridas de
longa duração. Numa luta de Muay Thai temos golpes nos quais usa-se a explosão
física para que estes saiam com máxima potência quando atingem o adversário com
o fim de machuca-los e/ou nocauteá-los. Após a utilização de golpes explosivos
ou alguma sequência de golpes há a necessidade de recuperação; sendo os golpes
executados em curtíssima ou curta duração, pensa-se que só se faz uso de
processos anaeróbicos alático e lático, e que seria necessário apenas treinos
de corridas curtas e de alta intensidade, como é comumente utilizado em treinos
de lutadores de MMA e Jiu-Jitsu, com sprints
e corridas curtas em areia, para otimizar essa capacidade de explosão no
combate.
Como já
foi explicado acima sobre os gastos energéticos, no uso dos golpes explosivos e
na parte de clinch (que é a parte agarrada
do Muay Thai) há o gasto anaeróbico lático e alático, devido também à força de
contração muscular, mas o Muay Thai faz muito uso de chutes e joelhadas, sendo
esta última, muito usadas junto ao clinch,
executadas na forma de saltos e de duração considerável durante a luta,
passando do tempo de explosão e partindo para a parte aeróbica do gasto
energético. Assim, entramos na necessidade da corrida de longa duração que os
Thais executam como parte básica do treino. Os lutadores também fazem
preparação física com treinos de musculação, onde cuidam da parte anaeróbica e
reforço das articulações e músculos, mas em um esporte onde a luta é
basicamente composta de 5 rounds de 3 minutos e mostrar cansaço é quase que uma
desonra, a necessidade de um gás que dure independente da intensidade da luta é
obtida com treinos de longa duração, e é aí que entram as corridas de longas
distâncias desse povo.
Além do
uso da parte respiratória durante a luta, a re-síntese tem que ser feita nas
três etapas (anaeróbicas alática, lática e aeróbica), o que é alcançado nos
treinos longos. Também temos o estilo de luta da própria arte do Muay Thai,
onde os golpes (principalmente os chutes) são executados com velocidade e potência,
sendo um pré-requisito pernas leves e tonificadas, características de atletas
de corridas longas e diferente de velocistas, que possuem pernas com
musculatura hipertrofiada e muito desenvolvida, buscando a explosão ao extremo
e terminando a competição em segundos, utilizando basicamente o sistema
anaeróbico.
Tendo
em conta estes fatores, começamos a entender o porquê da obsessão dos
tailandeses pela corrida com distâncias longas e duas vezes ao dia – com descanso
apenas no domingo (ou em apenas um dia da semana) – como início do aquecimento
do treino. O treino também possui outras
partes aeróbicas e anaeróbicas alternadas que justificam tamanho preparo dos
lutadores e bom gás para tantos rounds e lutas seguidas em intervalos curtos
(de 15 em 15 duas ou menos!).
Então,
se pretende ser um lutador ou pelo menos tentar treinar de forma semelhante aos
tailandeses a primeira dica é: Corra! E corra bastante! Mas comece no seu
ritmo, se informe sobre tênis, sua capacidade cardíaca, seu ritmo de corrida
(Pace), o tipo de terreno e tudo mais e se divirta!
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